Democracia para a ditadura

A Venezuela. com o Chavismo e Maduro, continua uma incógnita no mundo. Afinal, como o governante consegue se manter no poder em um país em absoluta crise social e principalmente econômica. Talvez a resposta esteja do andar de cima da América Latina, os Estados Unidos.

A história venezuelana deixa evidente o que seria a vitória da oposição ao chavismo, tudo do mesmo. Exportação da riqueza do país, principalmente o petróleo para a potência mundial, a qual o seu presidente, recentemente, disse não saber que a Venezuela é um país independente dos Estados Unidos. Como o resultado mais pobreza do que a realidade vivida atualmente, no Estado de Guerra.

Não é fácil imaginar a país latino-americano sob o comando de Donald Trump. Bolsonaro se fosse razoável seria o primeiro a contestar, entendendo que haveria uma supremacia oficial na região, fazendo densa sobre a maior nação regional. Mas não é assim que imagina no seu mundo de sonho americano.

Juan Guaidó, o presidente autoproclamado da Venezuela que se enfraquece com discurso frágil de democracia, na submissão política aos Estados Unidos. Kenzo Tribouillard – 22.jan.20/AFP

O presidente empossado pelos Estados Unidos Juan Guaidó é um absurdo político, que talvez o planeta nunca tenha visto. Alguém que, no dia seguinte, pela incapacidade de criar um debate sério e honesto com os venezuelanos, afirma ser o presidente da nação.

Daí em diante, tudo a ele pertence até mesmo a riqueza nacional em outros países, para a pobreza nacional no presente, com apoio de dezenas de países aliados dos Estados Unidos, inclusive o Brasil de Bolsonaro.

Os analistas políticos na sua maioria desenharam entendimento de que Maduro estaria fora do governo no instante depois da decisão dos Estados Unidos realizarem intervenção abertamente no país. Mas até agora não há sinais da saída daqueles que a mídia brasileira chama de ditador.

Esperando milagres!

O Brasil caminha para uma crise conjuntural, mais profunda que a das décadas recentes, que não se resume ao econômico, mas em vários níveis do Estado Brasileiro.

As mudanças propostas pela nova política brasileira e internacional se relacionam, ao final, no atendimento aos conservadores e liberais, de forma a nada mudar na divisão de renda e tudo transformar quanto à abertura econômica, pensando numa modernidade que nunca chega. Para tanto, necessário um projeto de família, fé, cultura, e meio ambiente, cada qual com suas funções simbólicas na sociedade.

Presidente conservador Bolsonaro ao lado do superministro da economia Paulo Guedes, com política a espera de um governo que deslanche para evitar questionamentos de grupos apoiadores e população que espera o (de) novo – imagem Jornal Folha/Adriano Machado.

O trabalho é problema nesta visão modernizante, pois onera as empresas, permitindo direitos aos trabalhadores que tornam-se, no “sistema antigo”, de outrora, protagonistas no modelo social, como consequência reduzindo o status quo de grupos sociais, que têm muitos motivos para o conservadorismo deste futuro.

Sem alongar aqui, cabe ressaltar a falta de comunicação do governo brasileiro, como exemplo nosso, com aqueles que vivem e viverão mais intensamente o processo de exclusão que se inicia, com mais energia motora do retrocesso. Um paradoxo em termos de internet e Fake News, mas em algum momento o que é dito sem consistência não se mantém, torna-se inconveniente e irresponsável.

Se o leitor quiser exemplos sobre o modelo econômico modernizante, basta observar a Argentina de Maurício Macri, Equador com Lenín Moreno, ambos países emergiram com ótimas propostas neoliberais, com a redução do Estado, desfazimento de direitos da população e privilégio às elites locais, com boa comunicação externa, com seus modelos de família e fé, contudo a conta nunca atingiu o esperado para os mais pobres e classe média que empobrecem neste sistema.

A crise social no Brasil é inevitável neste modelo e de outros países latino-americanos, como o próprio Chile, com Sebastian Piñera, em guerra civil. Além do que, os ricos empresários internacionais continuam preocupados com a economia, porém a que move o sistema financeiro e não exatamente a produção, riqueza social e divisão social. Por fim, para nações em tensão extremada, não haverá nunca ambiente para consensos e retorno à mesa.

O trem segue com poucos freios e sem a confiança de trilhos estruturados.

Bolsonaro, ‘pessoa do ano’

Como nunca a política brasileira passa pelo incentivo dos Estados Unidos a abertura das portas do Brasil para os interesses internacional, com ampliação do país da América do Norte como agente dominante na América Latina. A premiação da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos para este ano tem como o homenageado o presidente brasileiro como a “pessoa do ano”.

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Imagem Elpaís/ Gabriela Korossy – Homenagem a Bolsonaro nos Estados pela Câmara de Comérico entre os dois países gera debate. O político brasileiro vem obtendo apoio internacional para propostas neoliberais anunciadas pelo governo.

Com todas as ressalvas seria uma questão a felicitação passa pela política econômica de uma elite que aprofunda suas relações com o mundo em busca de mais negócios e rentabilidade lucrativa. O social, pode passar ao largo da comilança, com custo de alguns dólares para participar do banquete.

Na análise político do homenagem talvez fosse importante considerar que o presidente brasileiro chegou aos 100 dias de governabilidade com questionamentos em várias partes do mundo, quando o assunto é defesa da natureza, como atenção a proximidade com o agronegócio e exploração de riquezas minerais, e minorias sociais.

No universo econômico, os brasileiros veem o aumento do desemprego, o peso da inflação no bolso das pessoas do andar de baixo, e dúvidas quanto ao futuro de um governo conservador e ao mesmo tempo neoliberal.

Se no Brasil perde popularidade, há dúvida quanto ao perfil de Bolsonaro no mundo, com amizades que se alastram pelo mercado internacional, que quer aproximação da governabilidade e não exatamente da pessoa que querem indicar como sendo destaque do ano. No mundo do negócio internacional neoliberal, pode-se acreditar a falta de coração e alma nas decisões sociais.

No entanto, distante do senhor mercado, nem todos concordam com as propostas e sinalizações do político brasileiro. Perguntado pela mídia sobre a homenagem do presidente brasileiro, o prefeito de Nova York respondeu: “Isso [homenagear Bolsonaro] vai além de uma mera ironia e chega a ser uma contradição chocante. Esse cara é um ser humano muito perigoso”.

“[Bolsonaro] é perigoso não só por causa de suas posições abertamente homofóbicas e racistas, mas porque ele é, infelizmente, a pessoa com a maior capacidade para definir o acontecerá com a Amazônia no futuro, e se a Amazônia for destruída, uma vez que ela parte do nosso ecossistema global, todos nós estaremos em perigo”, disse.

A globalização de Bolsonaro

O presidente Bolsonaro decidiu abertamente por posições radicais na política brasileira, mudando a sua trajetória de longos anos. Quer colocar o país ao lado das grandes nações de economia hegemônica, mesmo que para isso precise dar as costas para antigos aliados latino-americanos e globais.

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Imagem L. Correa/ Reuters – Bolsonaro na segunda visita a Israel em menos de 100 dias de seu governo. Aproximação que efetiva posição limítrofe de ultradireita na política global, com protagonismo dos Estados Unidos, conduzidos pelo republicano Donald Trump.

Em duas apostas parece seguro que vai acertar, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos nas próximas eleições em novembro do ano que vem. As duas viagens que o presidente faz em Israel, antes dos seus 100 dias de governo, demonstra sua disposição de marcar lugar no cenário político nacional e internacional, visando se aproximar do império mundial, os EUA.

Portanto, com a convicção de que Benjamin Netanyahu conseguirá se manter no poder, com forte influência ao vencer adversários nas eleições que estão em curso no país, tradicionalmente em conflito permanente com os palestinos. Durante a visita do Brasil os conflitos resultam em bombas de ambos os lados e denúncias de corrupção contra o primeiro ministro.

Cada passo à frente, menos possibilidades de recuos lá e cá. Uma derrota de Trump seria fator de enfraquecimento do brasileiro. Uma mudança das negociações econômicas com os países muçulmanos criaria um amplo desconforto para parcela da elite econômica nacional.

Na América Latina vai ao Chile e pretere a Argentina o vizinho estratégico de longas trocas econômicas. Ataca a Venezuela em nome de decisão política e econômica de Trump – e não está sozinho na região, apenas passa a somar com Colômbia e Chile -, com olhos voltados para petróleo e com discurso democrático, que não se sustenta diante dos acontecimentos.

O Presidente, desta forma, veste o figurino de política sensível as lógicas conservadoras, com fronteiras definidas no Brasil; e no exterior recebe passivamente a linha limítrofe definida pela política dos EUA.

Considerando que o Brasil é uma democracia, ainda que no revés do mercado, o presidente conservador e de ultradireita foi uma escolha da maioria dos brasileiros. Na campanha eleitoral, a opinião pública se manifestou, diante de afirmações do capitão que segue o seu roteiro combinado, com milhares de eleitores pressionados pela crise econômica e institucional.

Império da realidade

Para os leitores dos bons livros de história brasileira vai perceber a grande dificuldade de relacionamento entre Brasil e Estados Unidos, quando o assunto é política e economia.

Na condição de maior país da região, portanto, com forte influência regional, a proposta dos norte-americanos de tornar a América Latina em território de seu domínio, com exploração de riquezas naturais, levam parte significativa da intelectualidade a defender prerrogativas para negociação subserviente.

Jair Bolsonaro e Donald Trump vão se encontrar nesta terça-feira pela primeira vez — Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República e Alex Brandon/AP
Imagem publicação G1/ Marcos Corrêa/Presidência da República e Alex Brandon/AP – Bolsonaro em visita ao colega Donald Trump, para quem os Estados Unidos são seu modelo político e o presidente conservador exemplo.

No entanto, nestes dias, há um contraste com esta realidade, quando o novo presidente brasileiro decide entregar a soberania nacional aos desígnios de Donald Trump, aproximação com excessos impensada até mesmo para nações de economia central, como países de Europa, com política multilaterais, com certos dispositivos de defesa.

Possível acreditar que Bolsonaro, que faz uso de livros como decorativo para seus pronunciamentos nas redes sociais, desconheça a história da região e por certo, nem sequer dos movimentos sociais brasileiros.

A ultradireita pode ser questionável, mas se define pelos argumentos de grupos esclarecidos, ainda que atitudes autoritárias para conduzir a manutenção do modo de vida, que significa, por vezes, hierarquia e privilégios.

O presidente e filhos submetidos a intelectualidade que defendem a casa grande, reproduzem a realidade que se apresenta à vista, numa lógica já conhecida para mundo de poucos ricos e muitos miseráveis.

Tal ideologia define exatamente um modelo de vida da exclusão, do centro contra a periferia, sendo prerrogativa desta a mudança, diante de seu atraso secular – nada mais simplista como haverá tempo para conhecer.

Novo governo que abusa de preconceitos, com emprego dos estereótipos os mais variados, somente para confirmar a falta de argumentos ou desejo de governar para a inclusão de uma sociedade com diversidade cultural e condições de sobrevivência.

A política do inimigo

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Imagem UOL

nodebate – nos últimos dias, além das armas com publicidade constante como forma de exterminar a criminalidade, a Venezuela ganha status do inimigo preferencial da política brasileira e argentina. Por tempos os Estados Unidos e países da Europa ganharam proeminência de dominadores, colonizadores das nações subdesenvolvidas, como Brasil e Argentina.

Por certo, não seria difícil, historicamente, entender a exploração de outras nações, numa política global dos países centrais, cuja determinação continua nos dias que passam, de maneira ainda mais sutil. Eleger a Venezuela, no entanto, pode significar uma forma de retirar o alvo do olhar de uma sociedade, que constata a crise na pele e não sabe como sair dela racionalmente.

Encontrar o inimigo é uma forma eficiente de grupos políticos, de responder aquilo que se quer e não discutir o que é necessário esconder, como estratégia de estabelecer propostas impopulares.

A rigor, acabar com Maduro seria uma solução econômica para a América Latina? A entrada de um neoliberalismo já conhecido de velhos carnavais na economia e política de Estado é mesmo o que a população do país sul-americano quer? Qual é a história político-econômica do vizinho? Como pensar a democracia em tempos de capitalismo excludente?

Na Argentina, qual a razão de Maurício Macri vir ao Brasil e condenar veementemente o governo Venezuelano, considerando que convive com uma profunda crise econômica no seu país, o qual governa nos moldes neoliberais, antípoda do venezuelano, porém com resultados sociais pífios?

Questões a serem observadas pelo eleitor brasileiro, de modo a avaliar pontos importantes da política no Brasil.

Afinal, em momento cruciais de um governo autoritário, pode haver necessidade de construção de uma guerra patriótica, quando na verdade não se deve lutar para a existência de conflitos, mas fortes batalhas pela paz, redução da injustiça social, distribuição equitativa de renda, interação civilizada com os países regionais, evitando que os brasileiros se tornem instrumento de políticas dos grandes centros econômicos globais, às cegas.

Em essência, a América Latina não é a Comunidade Europeia e nem mesmo os Estados Unidos, com suas crises política e individualismo secular.